quinta-feira, agosto 31, 2006

Os Prazeres Nunca Parecem Ser Suficientes


Foto de Kazuo Okubo

Parece-me que a natureza trabalhou para ingratos: somos felizes, mas os nossos discursos são tais que parecemos nem sequer suspeitar disso. No entanto, encontramos prazeres em toda a parte: estão ligados ao nosso ser, e os pesares não passam de acidentes. Os objectos parecem em toda a parte preparados para os nossos prazeres: quando o sono nos chama, as trevas nos aguardam; e, quando acordamos, a luz do dia nos arrebata. A natureza é enfeitada de mil cores; os nossos ouvidos são lisonjeados pelos sons; as iguarias têm gosto agradável; e, como se a felicidade da existência não fosse suficiente, é ainda necessário que a nossa máquina precise de ser incessantemente reparada para os nossos prazeres.

Baron de Montesquieu, in 'Os Meus Pensamentos'

segunda-feira, agosto 28, 2006

Mais umas poucas Dúzias de Homens Ricos


Foto de José Silva Pinto

Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.

Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra'

domingo, agosto 27, 2006

O Mundo é belo


Foto de Markus Arns

Pensei comigo mesmo com que meios, com que trapaças, com quantas artes diversas, com que habilidade um homem aprimora a sua inteligência para enganar outro e como com estas variações o mundo se faz mais belo.

Francesco Vettori

Concentre o seu Poder


Foto de Kazuo Okubo

Tenha cuidado com a dissipação dos seus poderes; lute constantemente para os concentrar. O Génio pensa que pode fazer tudo o que vê ser feito pelos outros, mas acabará por arrepender-se de tanto desperdício.

Johann Von Goethe