quarta-feira, setembro 27, 2006

Felicidade é Capacidade de Contemplação


Foto de Jana Vieiras


Quanto mais se desenvolve a nossa faculdade de contemplar, mais se
desenvolvem as nossas possibilidades de felicidade, e não por acidente, mas
justamente em virtude da natureza da contemplação. Esta é preciosa por ela
mesma, de modo que a felicidade, poderíamos dizer, é uma espécie de
contemplação.
Aristóteles, in 'Ética a Nicómaco'

quinta-feira, setembro 21, 2006

A Razão ao Serviço do Instinto


Foto de Michael Shultes

O homem é um ser que tem necessidades na medida em que pertence ao mundo sensível, e, a esse respeito, a sua razão tem certamente um encargo que não pode declinar em relação à sensibilidade, o de se ocupar dos interesses da última, o de constituir máximas práticas, em vista da felicidade desta vida e também, quando é possível, da felicidade de uma vida futura. Mas não é, no entanto, tão completamente animal para ser indiferente a tudo o que a razão lhe diz por ela mesma e para empregá-la simplesmente como um instrumento próprio para satisfazer as suas necessidades como ser sensível. Pois o facto de ter a razão não lhe dá absolutamente um valor superior à simples animalidade, se ela só devesse servir-lhe para o que o instinto realiza nos animais.

Emmanuel Kant, in 'Crítica da Razão Prática'

domingo, setembro 17, 2006

Questões de Coração.


Foto de Alexandre Salles

Quando o coração não sente, nada salta.
Marco Magalhães

sexta-feira, setembro 15, 2006

Poder sem Futuro


Foto de Francois Benveniste

Quando se considera que o produto do trabalho e das luzes de trinta ou quarenta séculos foi entregar trezentos milhões de homens espalhados pelo globo a cerca de trinta déspotas, a maioria ignorante e imbecil, cada um dos quais é governado por três ou quatro celerados às vezes estúpidos, o que pensar da humanidade e o que dela esperar no futuro?

Sébastien-Roch Chamfort, in 'Pensamentos, Máximas e Anedotas'

domingo, setembro 10, 2006

A Vida deve Ser um Sonho que se Recusa a Confrontos


Foto de A. Brito

Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida - figuras ridículas que fazemos, maus gestos que temos, lapsos em que caímos de qualquer das vir­tudes - deve ser considerado como meros acidentes externos, impotentes para atingir a substância da alma. Tenhamo-los como dores de dentes, ou calos, da vida, coisas que nos incomodam mas são externas ainda que nossas, ou que só tem que supor a nossa existência orgânica ou que preocupar-se o que há de vital em nós.
Quando atingimos esta atitude, que é, em outro modo, a dos místicos, estamos defendidos não só do mundo mas de nós mesmos, pois vencemos o que em nós é externo, é outrem, é o contrário de nós e por isso o nosso inimigo.
Disse Horácio, falando do varão justo, que ficaria impávido ainda que em torno dele ruísse o mundo. A imagem é absurda, justo o seu sentido. Ainda que em torno de nós rua o que fingimos que somos, porque coexistimos, devemos ficar impávidos - não porque sejamos justos, mas porque somos nós, e sermos nós é nada ter que ver com essas coisas externas que ruem, ainda que ruam sobre o que para elas somos.
A vida deve ser, para os melhores, um sonho que se recusa a confrontos.

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'